terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A Resposta



Chegou à moradia entrou e descalçou-se, depois de arrumar as botas para o frio que se faz sentir na rua tratou de fazer café, um expresso, e sentou-se na velha cadeira coberta por uma manta que a mãe lá coloca.

A idade vai colhendo a sua graciosidade, os movimentos, o cabelo branco, agora cansa-se com mais frequência basta subir uns degraus. 

Sentado, vai olhando pela vidraça a mata de cor acastanhada pelo Outono chuvoso e as lembranças jorram em cada folha que cai.

A vida foi-lhe simpática, extravasou os sonhos de rapaz, foi amado e viveu esses romances como se fossem os últimos, agora tem a companhia da mãe e o vazio que vai olhando pelos intervalos das árvores que se abanam ao vento.

Os pensamentos toldam-lhe a alma, deixa sair um sorriso aconchegando-se na velha cadeira enquanto procura sobre a pequena mesa o livro que começou a ler recentemente, “Deus Dorme Em Masúria”.

A história do livro baseia-se na vida de uma família alemã na época antes da segunda grande guerra, ao ler sobre as férias levantou o olhar, recordou a sua praia e a mulher a quem nunca disse que era o seu grande amor.

As histórias começam sempre assim.

Levantou-se, dirigiu-se ao computador e enviou uma mensagem:

“No sábado de tarde, como sempre, fui fazer o meu passeio a São Pedro de Moel e não me saíste da cabeça, tive esperança de te ver lá em baixo na pracinha e mesmo a começar a chover “obriguei” a minha mãe e a minha filha a fazer a volta por lá, subindo depois como quem vai para o farol…mas…não tavas.”

Morreu sem nunca receber a resposta.


2 comentários:

Anônimo disse...

Se calhar ela já tinha deixado de ler mail`s.Já nao tinha pc,ou algo assim do género.Estava cansada.

Gostei da história,beijo.

Nati

oteudoceolhar disse...

...finalmente este ano tive o privilégio de conhecer São Pedro de Moel

https://500px.com/photo/99683971/-%22the-sea-over-me%22-by-maria-ferreira?from=user_library

Foi preciso dar uma volta de muitos 180 graus, ter a coragem de Amar alguém real, a quem contei a "História", de uma poeta que escreve como poucos, ou pelo menos que tanto prazer sempre me deu em ler ... levando a imaginar cenários, olhares, sorrisos, e beijos feitos lágrimas...
Será sempre para mim, o Eleito ...
Continua a manter a magia, e o "abraço" às palavras tão bem agarradas a si...
*
Será que morreu mesmo??

Beijo n´oteudoceolhar.