sexta-feira, 3 de maio de 2013

O telefone


Ele e ela estão longe, separados por milhares de quilómetros.

À noite telefona ela de casa como é habitual.
Como estás?, pergunta-lhe.
Tudo bem, responde ele, estou em casa foi mais um dia. A sua voz simula uma alegria triste, e
mbora estando bem tem saudade.
Eu também, diz-lhe ela, com palavras sumidas, abafadas na voz inquieta.
Fazem silêncio, e ele sai caminhando para uma urbanização vizinha. Ele muda o telefone de mão, enquanto se senta no muro que dá para o rio, olha um grupo de jovens barulhentos que passam abraçados e em gestos carinhosos, deixa sair um ligeiro sorriso.


Volta-se para o rio. E ela começa a falar das suas preocupações, desabava do dia a dia, pede algumas opiniões. Ele levanta-se e começa a caminhar nos passeios da urbanização a ouvi-la, passa por uma chaminé de uma antiga fábrica de resinas e dá conta que à uma queda abrupta da temperatura, começa a ficar frio. Ela continua a falar ao telefone.
Esgota o assunto, cala-se. Voltam ao silêncio. 


Quando estão juntos a vida parece correr intervalada no que existe e nas dificuldades. A vida corre depressa, ultrapassa-os impedindo de serem infelizes, não têm tempo a perder, e as idades dão-lhes o traquejo de sobra para eventualidades indesejáveis.
Ela sente a falta dele e ele a falta dela.


As histórias começam sempre assim.

Vou para a cama. Diz ela. Já!?!, perguntou-lhe.
Vou!?!, Amanha tenho fábrica e Alex e estou moída.
Ok… Vai, estava a pensar na nossa tarde em Seiça.
Estás? Olha, hoje pensei em vez de vires cá acho que quem vai aí sou eu.
Porquê?, pergunta-lhe ele curioso. Estou a precisar de sol, se marcar amanha vou dentro de duas semanas. Vem, diz-lhe ele ao telefone olhando a estrada para o Porto, temos coisas para fazer diferente.


Isso, concorda ela, esta é a nossa vida e temos de fazer com que resulte, é isso que eu quero.
Tens a certeza?, provoca ele. Tenho, garanto-te, agora tenho. Amo-te, diz-lhe ele, ela responde-lhe o mesmo e desligam.


É noite na urbanização e em Nordein-Westfalen, separados por milhares de quilómetros, ambos entendem que precisam um do outro e do telefone.

Um comentário:

Flor de Jasmim disse...

Os quilómetros separam as pessoas, mas nunca os corações.
bom fim de semana

beijinho e uma flor