segunda-feira, 6 de maio de 2013

Café Concerto


Ele sabe que ela está na cidade. Numa festa de amigos comuns ele vê-a numa das duas varandas de copo na mão e aproxima-se. Sabia que estavas cá e vim porque querias ver-me, tenho a certeza. Ela sorriu e abanou a cabeça afirmativamente. Estás bem?, pergunta ela. Estou, vou indo, dá para nos encontrarmos para um café? Ela aceita. Combinam como contactar o outro. Liga-me de uma cabine telefónica, sugere ele.

Tinham sido amantes no passado, terminaram por culpa da distância e ela já não vinha à cidade há alguns anos. Saiu da festa a pensar se ela iria ou não telefonar. Podia ser difícil de acontecer, ela tinha assumido um compromisso e isso podia suspender as vontades.
Na varanda, sozinha, ela olha as árvores que abanam ao vento, o companheiro aproxima-se e pergunta, quem era?, um conhecido de há muito tempo e leva o copo aos lábios.
Passados alguns dias ele recebe o telefonema pelo qual já desesperava. Está!, sim… estou, diz ele. Amanhã onde me disseste que me amavas a primeira vez, depois de almoço, e desligou.

As histórias começam sempre assim.

Entra no Café Concerto da cidade e olha para a mesa que mais lhe convém, encontra dois amigos, um é técnico e trabalha no espaço e o outro tentou a profissão de treinador de futebol mas acabou por se dedicar a columbofilia. Ora viva, diz-lhe o columbófilo. O que vieste aqui fazer a esta hora pergunta o técnico. Deixem-me sozinho, responde secamente e eles perceberam.

Ele ocupou uma mesa e uma funcionária aproxima-se. Estou à espera de uma pessoa, depois pedimos. Ela chega minutos depois, ele levanta-se e cumprimentam-se com dois beijos. Foi difícil?, pergunta ele. Não… ele está a calcetar a entrada da residência da minha afilhada, tenho uns minutos, pede dois cafés.
O coração dele ganha vida, ela sorri. Ele é o homem da tua vida, questiona ele. Não me faças essa pergunta… diz ela. Enquanto o amigo técnico anda de um lado para o outro olhando de soslaio.
Vou amanhã a São Pedro de Moel e depois vou embora, aparece, na esplanada da praia a meio da tarde, é um pedido que ele sente não poder negar.

Chegou a São Pedro na hora que ela lhe disse e encontrou-a na esplanada com o companheiro. Sentou-se em outra mesa e trocou olhares com ela. A tarde estava quente, a praia com muita gente e ela parecia-lhe radiante, feliz, sentou-se no muro virada para ele. 

Pelos óculos escuros ele mirava-a e recordava como tinha amado aquela mulher, achava mesmo que não eram totalmente indiferentes, ele estava ali porque ela lhe pediu.

Ela levantou-se e caminhou pelo areal em direcção ao mar, molhou os pés, regressou e voltou ao muro, o companheiro abeirou-se e beijou-a nos lábios com ternura. 

Ele colocou uma moeda de um euro no pires do café que tomou, e sem esperar pelo troco foi embora gelado até à alma.

Nenhum comentário: