Ela veste uma blusa branca e saia castanha bordada, caminha junto ao mar, descalça, na praia onde ele nunca foi feliz. O Pedrógão. O sol brilha aquecendo a aragem que aqui é normal.
Senta-se num monte de areia e olha a ondulação, parece pensativa. Ele, no paredão vai olhando aquela mulher e pensa o que faz ali, sozinha, ela levanta-se e vai até perto da rebentação, tenta molhar os pés mas foge para não molhar a saia comprida. Ele continua a observa-la.
Um homem aproxima-se, dão as mãos e adivinhando que ela não lhe é indiferente ele segue com o olhar a direcção que percorrem, saem do areal e entram numa residência. Deve ser o marido, deduz, e vai embora.
Passaram dois anos. Ele está sentado na esplanada do café habitual na praia onde é feliz, São Pedro de Moel. A descer a rua uma mulher de saia comprida e de blusa preta aproxima-se, era ela, conheceu-a de imediato, que coincidência.
As histórias começam sempre assim.
Ela sentou-se ao lado em outra mesa e perguntou se o jornal era do dia, ele disse-lhe que sim e, chegou-lho à mão. Arriscou a meter conversa, disse-lhe que as notícias eram horríveis, ela pediu um café e sorriu na direcção dele, ele manteve a conversa e disse-lhe que a tinha visto, que a conhecia da praia do Pedrógão há dois anos. lembro-me de a ver a passear na beira do mar, adiantou, ela mostrou estupefacção por ele recordar esse dia esse momento de que ela já tinha esquecido. Ficaram algum tempo e ele convidou-a para umas pipocas que se vendem na praça.
Pela praia ela falou sobre a sua separação que tinha acontecido já há um ano, e ele falou na dele. Ficaram ali pelas varandas e ela aceitou o convite para jantar, ficaram juntos os restantes dias, sorriram nos restaurantes, dançaram e passearam adolescentemente, foram amantes na areia da praia de dia e na frescura das noites, nas dunas e nas cavidades das rochas, fizeram por ser felizes e foram, ele pediu-lhe para deixar as saias compridas e ela deitou-as fora, ele também cedeu a alguns dos seus desejos.
O tempo esgotou-se e ela regressou á sua terra, Mourão. Ele escreveu-lhe imensas vezes falando daqueles dias que o tornaram jovem e apaixonado, ela nunca respondeu.
Um ano depois na companhia da mãe ele volta a São Pedro de Moel, de regresso ás varandas ele encontra-a, vê que ela vem da esplanada junto ao areal e vai em direcção à praça, ele recorda quando lhe disse que a amava, foi precisamente ali.
A mãe segura-o pelo braço e diz-lhe: Vamos embora está a ficar frio...
2 comentários:
Gostei.
Os precalços da vida que marcam sempre e para sempre!
Boa semana
beijinho e uma flor
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