quarta-feira, 8 de maio de 2013

Leocádia Eugénia de Seiça Pinto

A mesa era do jeito de corrida. Uns sentados de um lado e outros do outro. Ela ocupava um lugar no final da mesa, ele olhou-a e ela baixou a cabeça, dirigiu-se a ela como se ela fosse a única pessoa ali presente. 

Não sabia que estavas por cá, diz ele cuidadoso. Vim para fazer surpresa não sabia que vinhas aqui hoje, e abraçaram-se fraternalmente. 

Trocaram elogios e ele quis saber os dias que ela iria ficar em casa dos pais. Vou quarta-feira embora, responde ela. Então amanhã vou-te buscar para tomarmos um café. 

Como combinado ela entrou no carro e perguntou: Onde vamos?, a um sítio que gosto muito, e conduziu em direcção a onde desejava beber um café com ela. 

Tens frio queres o meu casaco, pergunta ele já em São Pedro de Moel. Não, eu aguento, obrigado. No café na rua que desce em direcção à praça ele escolhe uma mesa enquanto o dono, senhor António, atende com a simpatia que se lhe conhece e já se conhecem há alguns anos.

O café tem as mesas quase todas ocupadas, dá para ouvir o mar e gente que fala baixo, ouvem-se páginas de revistas a serem desfolhadas. Os dois, frente-a-frente, olhos nos olhos, deixam-se inserir no clima envergonhadamente. 

Deixei de saber de ti, diz ele mexendo o café. Eu escrevi no Natal mas a carta veio devolvida e não escrevi mais, responde ela apertando a chávena de chá com as mãos para as aquecer.  Falaram dos últimos anos, dos tumultos existenciais e badalados na família, falaram das suas vidas. Trocaram anseios, murmuraram desejos para o futuro e para o dia seguinte.

As histórias começam sempre assim. 

Ele avançou com o plano de a ir buscar outra vez. Posso amanhã passar lá por casa e vamos a algum lado. Onde?, Pergunta ela. Sei lá, depois se vê. Depois de almoço por volta das duas, diz ela. 

Assim foi, de novo no carro foram a outra praia. Escolheram o bar onde desejavam estar o tempo que lhes restava, ela não estava alegre, olhava a sala como quem arquiva imagens para memória futura, ele, olhava o mar e falava que o céu cinzento não deixava ver o farol de São Pedro de Moel. Vamos, quero-te mostrar um lugar maravilhoso, um sítio recatado, um vale verdejante com um mosteiro abandonado.

No dia seguinte ela partiu.

Os anos passaram. 

Certo dia, no Município da cidade onde ele nasceu, surgiu uma mulher aparentando uns trinta e tal anos que se dirige à recepcionista. 

Boa tarde, diga se faz favor?, quer saber a funcionária. Eu não conheço a cidade, sei que o meu pai é daqui e já faleceu, procuro o sitio certo onde ele está sepultado. Como se chama? Eu chamo-me Leocádia Eugénia de Seiça Pinto.

2 comentários:

Flor de Jasmim disse...

Gostei de ler!
Adorei a foto que conheço bem e que tambem tenho uma igual, ou parecida tendo a minha o banco que lá existe com uns dizeres, penso que algo parecido com "Ó banco se tu falasses tinhas muito que dizer, se alguém te perguntar, nunca queiras responder"

beijinho e uma flor

Anônimo disse...

Lindo..Adorei

Beijo da tua Nati