quarta-feira, 6 de março de 2019

Rio



Tenho um rio a meus pés que corre sereno a caminho da foz dos meus pensamentos. 

Igual aos meus passos, compassados e imaginários junto da rebentação, que sem dar conta, chegam a todos os olhares que carrego na lembrança de um fim de dia de Inverno que nunca existiu. 

Sentado aqui a ver passar o rio, escrevo um poema sem palavras, parecido com aquele que me ofereceste sem te importares se eu o perceberia ou não. 

Este é o rio onde um dia naveguei com a minha imaginação, imaginava através da escotilha e mentia-me a ouvir palavras tuas, que chegavam no vento embrulhadas na brisa como prendas perdidas na lonjura dos dias sem fim. 

Há um vazio que se sente, cheio de promessas e desejos do que nunca vivemos. 

E o tempo, sempre o malvado tempo, o mesmo que um dia nos juntou é o mesmo que nos separa, neste constante e ininterrupto martelar do relógio da minha cidade que marca a hora certa dos nossos reencontros.

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