segunda-feira, 22 de outubro de 2018

O Espelho


Cheguei cedo ou talvez fosse já tarde, bem, acho que não tenha sido capaz de descodificar o tempo onde me movia, sentei-me na pedra habitual, o mar estendia-se para além do horizonte, de repente, as correntes da maresia fluíam a minha alma, e os meus pensamentos partiam em mil destinos líquidos. 

Numa inspiração intensa os pingos de mar que subiam ao rochedo invadiram o meu corpo e a minha mão molhada direccionou-se na procura do amparo sólido do teu abraço, do teu colo fiquei a olhar o mar e a espiar-lhe os tormentos, a adivinhar-lhe os desejos, a sentir o nós que em tela húmida de veludo reflectia uma lágrima. 

Vim embora, deixei-te como sempre no mesmo sítio e trouxe o aroma do mar transbordante comigo, bebi mais um pouco da nossa essência, do penedo e da princesa e daquilo que somos juntos. 

Foi só mais uma lágrima, amor, foram muitos mais os sorrisos. 

O espelho nos devolve tudo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Penedo da Saudade em S. P. Muel.
Sinto como se fosse eu a escrever estas palavras, não sei o que mais dizer António, por vezes nem é preciso dizer nada, deixo-te um sorriso.