segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Pacote de Açucar



Dobrava meticulosamente o resto que sobrava do  pacote de açúcar, sentada e chegada à frente na mesa do café ia revivendo as mudanças que impôs à sua vida.

Aquele homem, foi o seu encontro de sonho que lhe deu a vantagem de passar a acreditar nas revistas cor-de-rosa.

Aparentemente iguais, nos gostos desportivos, da cozinha, e da cor do automóvel, o que faltava era tempo, um incomodo para quem procura que não ocorram equívocos.

O  leito, espectacularmente criado e desejado, era divinal, de lençóis em cetim vermelho, bem assentes, puxados e repuxados para que a suavidade e a luxúria fossem momentos a instigar a indecência humana, actos que deixava na alma a vontade de repetir, só mudava a cor dos lençóis, de cetim.

Mas, os peúgos  pretos, espalhados pelo leito divinal, eram o pormenor que lhe desalmava a boa vontade, que a enervava, talvez essa liberdade que ele desnecessariamente impunha fosse o mais nefasto da historia e que descoloria o que deveria ser o que sonhara para a vida.

As historias começam sempre assim. 

Começou a desviver, ao seu olhar e em pouco tempo os lençóis de cetim mesmo com mudanças de cor deixou de resultar,  perdeu a vontade de praticar zumba, de dançar kinzomba, colocou na gaveta o avental de cozinha, achou irracional, incrível, fazer amor na beira do mar enrolada em areia aguada em noites tantas vezes sem luar.

Sorriu, deixou cair a cabeça para a frente e levantou-a logo depois passando as mãos pelo cabelo, olhou para o lado e: Posso pedir-te um favor filho?, sim mãe. Preciso de ir  amanha a São Pedro de Moel. Fazer o quê?, quero olhar o areal, quero ver se estão pegadas do homem dos peúgos pretos marcadas na areia. 

O filho sorrindo, pegou-lhe delicadamente numa das mãos: Nunca esqueceste, tá bem mãe.

Um comentário:

Anônimo disse...

Linda história......beijo