sábado, 21 de dezembro de 2013

Viena


Ela entrou na empresa do marido e inadevertidamente escutou a conversa deste com dois amigos, "depois destes anos o meu casamento esta em velocidade de cruzeiro, é pá já passamos dos quarenta os miúdos estão a começar a vida deles acho que foi tempo, a minha mulher pretendia ir uns dias para Ibiza mas eu nem estou para isso, palmeiras e praia definitivamente chega e não".

Voltou para trás, saiu e encostou-se ao carro, umas lágrimas começaram a cair e o sentimento de perda começou a preencher os seus pensamentos, pegou no telemóvel e ligou para a melhor amiga, "está!, preciso de falar contigo, quero desabafar não te passa pela cabeça o que eu acabei de ouvir da boca do meu marido, podes encontrar-te comigo?, já!, sim, no vermelho, pode ser."

Chegaram as duas quase ao mesmo tempo, entraram no bar e sentaram-se, ela tremia, depois de pedirem um chá ela começou a contar o que ouvira e estava em pânico, "acho que vou perder o meu marido!", a amiga conforta-a e fala-lhe em outros exemplos, "vai para casa e não te mostres preocupada, logo eu telefono", pagaram e saíram cada qual com o seu destino.

Depois da hora normal de jantar a amiga telefonou, ela atendeu e diz-lhe que ele ainda não chegou, "não te preocupes ele gosta de ti, vocês precisam de se voltar a conhecer, tenho algo que podes fazer e vai ser giro, pega naquela saia e no vestido e nas calças e na camisola de lã branca, e vai ter comigo ao estúdio do meu colega fotografo, estou lá a tua espera,".

Posou o telemóvel e deixou-se ficar no sofá, o marido chegou disse-lhe olá e foi para a cozinha aquecer o jantar sem dizer mais nada, ela foi também e falou-lhe nos dias previstos para fazerem umas férias, ele, não se mostrou interessado, "não falamos agora disso deixa-me comer", ela insistiu, "estive a pensar, esquece Ibiza, depois resolvemos", ele olhou para ela enquanto abria o microondas e confirmou que os dias estavam programados para fazer férias, ela voltou para o sofá.

No dia certo e combinado com a amiga ela apareceu no estúdio do fotografo, na mão uma mala de roupa que tinha previamente escolhido, a amiga apresentou-a ao fotografo e durante aquela tarde trabalharam numa produção fotográfica onde ela se dispôs a imagens ousadas, sensuais, libertando-se de preconceitos e mostrando os seus quarenta e tal anos à máquina fotográfica que disparava sobre ela. 

As historias começam sempre assim. 

Terminada a reportagem o fotografo diz-lhe para passar no dia seguinte para fazerem a escolha, a amiga exige estar presente, os três sorriem e ela desabafa, "meu Deus espero que ele compreenda!", o fotografo descansa-a, "o que fizemos aqui não é para quem quer é para quem pode, amanha vai-se surpreender", ela encolhe os ombros, despede-se, e vai embora.

De volta ao estúdio escolheram umas quantas fotos, ela gostou do trabalho efectuado, a amiga incentiva-a a idealizar para os tais dias livres algo que vá ao encontro do que o marido gosta, "faz isso, agora é a vez dele, surpreende-o, vocês amam-se, desejo-te muita sorte".

É meia tarde, um estafeta chega à empresa entra no gabinete do marido e informa-o que lhe trás um envelope, "assine aqui por favor".

Surpreendido abriu o envelope e reparou de imediato na primeira foto, levantou-se, ajeitou melhor os óculos de ver ao perto, e foi olhando uma a uma até que lhe surgiu um colega que pergunta, "posso ver?, deu permissão abanando a cabeça em sinal afirmativo, "esta é a tua mulher pá!, esta aqui um cartão", pegou e desdobrou-o, leu em silencio:

"Surpreendido?, fiz esta reportagem a pensar em nós, passei na agência de viagens e para os dias que temos marquei para Viena, amo-te."

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