sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O Cadeado


Viu-a a sair do automóvel e a seguir a beira do rio. Foi olhando até que ela se perdeu entre os ramos pendurados das árvores que lhe davam sombra.

Deixou-se ficar sentado na esplanada a ler o livro que o acompanha e vai bebendo a cerveja que esta sobre a mesa.

Passaram poucos minutos e ela volta a passar, entra no automóvel e vai embora, ele seguiu-a com o olhar e achou-lhe graça.

Ele não conhece a cidade. 

Foi ali colocado em trabalho e encontrou aquele local por acaso, gosta de ler, o bar tem uma esplanada defronte ao rio no que parece ser a parte velha da cidade.

Ficou mais um tempo, depois foi para casa mas a silhueta daquela senhora não se dissipara.

É um homem livre, a vida deu-lhe alguns amores mas nenhum o agarrou, nunca se prendeu por muito tempo, é bem sucedido profissionalmente, antes de chegar veio escolher o pequeno apartamento para viver, adora andar de bicicleta. 

Sobe junto ao rio, passa por uma catedral e depois outra, vai pensando se no dia seguinte a vai ver outra vez: "Será que ela volta a aparecer", interroga-se.

As historias começam sempre assim.

A tarde quase no seu final está quente, e ele está na mesma mesa com o mesmo livro. Inquieta-se, não consegue ler e já vai em duas cervejas, de súbito ela volta a estacionar o automóvel e faz o que no dia anterior fizera, passou rio abaixo e voltou alguns minutos depois, entrou no carro e partiu.

Os dias foram passando e ele deixou de ler, sentava-se na esplanada bebia umas cervejas só para a ver passar, por vezes ela não aparecia.

Começou a ficar intrigado com o que ela fazia junto ao rio no final das tardes escondida pelas árvores.

Decidiu que no dia seguinte seguiria o mesmo trajecto para tentar o primeiro contacto.

Chegou cedo e foi andando até se embrenhar no arvoredo, deparou-se com uma pequena ponte com laterais em ferro, transpôs para a outra margem, está logo na sua frente um banco em madeira e sentou-se de livro na mão, esperou, e na hora habitual ela surge, ele levanta-se, e ela pára em cima da ponte, agacha-se, agarra um cadeado dos muitos que estão presos no gradeamento, passa-lhe as pontas dos dedos e volta para trás.

Ele segue-a com os olhos até ela desaparecer entre a folhagem, curioso vai ver o cadeado que ela teve nas mãos e lê: 

"Pela filha que não tivemos, amo-te". 

Um comentário:

Anônimo disse...

Muita emoção em cima dessa ponte.
Adorei......a história.