Sunday Morning

Ele vai colocando no suporte de madeira os livros que editou. É um escritor pouco falado e que aproveita esta feira do livro para mostrar os seus romances e tentar vender algum. 

Ao lado, está a banca de uma colega escritora já com milhares de livros vendidos e agraciada com alguns prémios. Funcionários vão aperaltando o espaço quando ela chega. 

Ele ficou estático com um livro na mão, observando-a, ela olhou-o e sorriu com um olá. 

O nome dela está estampado por todo o atelier, a produção é de requinte, ele continua estático e ela vai dando orientações na arrumação da exposição, volta a olhar para ele e, pergunta se ele precisa de ajuda. 

Meio atrapalhado, disfarça, diz-lhe que não, e surpreende-a, estou a ouvir a música do seu atelier. 

Gosta? Pergunta ela. Muito aconchegante, conheço, mas nesta versão instrumental nunca tinha ouvido. 

Na fronteira das duas bancas ela diz-lhe que adora a versão e que pretende relaxar a ouvir o cd mas ainda não surgiu oportunidade. 

Ele respira fundo e responde que: Esta música é para ouvir junto ao mar, talvez dentro do carro num dia de céu cinzento… Acha!!??!!, diz ela. Tenho a certeza. 

As histórias começam sempre assim. 

Ela voltou a sorrir para ele e disse-lhe que vão ser bons vizinhos na feira. Posso ficar com este livro?, arrancando-o das mãos dele, até já, despedindo-se. 

Ele voltou aos caixotes para arrumar o que faltava a inauguração era dali a horas. 

Com o seu espaço pronto, ele vai até ao bar e senta-se na última cadeira do balcão, por ali andam editores, escritores e arrumadores, ele vai observando tanta azafama. 

Ela volta a surgir-lhe, agora na entrada do bar. Faz-se de distraído e assiste aos atropelos a que ela é votada, todos a querem cumprimentar outros pedem autógrafos, ela não perde muito tempo e a ele até lhe parece que se dirige em sua direcção, vira-se para o balcão e segura o copo de cerveja fazendo-se desinteressado.

Ela senta-se ao lado e coloca um CD entre os braços dele. Já temos o CD para ouvir-mos, talvez no seu carro, escolha o local. 

São Pedro de Moel... É onde escrevo.