terça-feira, 21 de maio de 2024

quinta-feira, 4 de abril de 2024

O teu sorriso

O teu sorriso imune ás pegadas que vais deixando na praia prepara a cerimónia desejada que é o meu regresso à solidão e ao cultivo do silêncio.
Sigo as pegadas nos areais ao jeito de sonâmbulo, é apenas aparente, mas as pegadas são tuas.
Ao lado, o casario e as suas esquinas que nunca me informam do que vou encontrar ao dobra-las, o mar, e as varandas, permitem olhar longe o sol que se põe na sua majestosa natureza como se as tuas pegadas viessem na minha direcção.
São Pedro é cúmplice nos sonhos que por aqui se escrevem, um dia voltarei a mergulhar despido junto da rocha Moel para depois te abraçar e afogado na tua pele, morrer de encanto.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Longe

 


Quando a noite caía sobre São Pedro de Moel, eu percorria na memoria os caminhos controversos e sempre me detinha numa forma imperfeita na incompletada vida que aqui me trouxe para sentir o teu abraço.


No penedo o meu olhar prolongava o olhar sobre o horizonte de coração em desejos como quem queria avistar quem a minha alma amava de lábios a queimar de beijos.


O farol que te faz chorar avisa ao longe um veleiro que está no meio do mar à espera do seu marinheiro.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Indigo


Embora sinta uma vontade imensurável para escrever, vou alimentando o desejo apenas pela metade.
 
Escrever é um atalho de tentações, reflexões e violência, amor ou indiferença, de tudo me sirvo para usar a minha quarta classe mais a assistente internet.

Descobri uma pequena loja de chá, onde entrei, um espaço com paredes forradas a papel de veludo azul índigo com relevo e de cortinas corridas até metade, de modo que os corpos dos que passavam na rua formavam uma espécie de jogo de sombras à laia balinês no tecido amarelado dos cadeirões onde me sentei, estive ali silencioso, a olhar a rua e os seus efeitos, olhos nos olhos, espectro no espectro.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Uma História

Sou um sexagenário e ao sair de casa onde habito no caso numa zona urbana sensível quase me sinto Deus.

Quando, após anos de recusa assumida e debate progressivo e exaustivo, por a minha namorada se recusar a usar saias curtas ela diz as palavras mágicas:

Olha lá depois podíamos passar na Lion Of Porches para vermos aquelas saias que achaste giras no outro dia.

Engasguei-me, belisquei-me, olhei para ela com cara de avc eminente e ... Não pode!!! Virou rapariga adulta.

Será que o próxima decisão é dizer que está cansada de andar de sapatilhas e que quer uns sapatos!?

Vou acender uma velinha ali ao canto do café e fazer um altar à santa milagreira que tornou isto possível.

Hallellujah Hallellujah.

sábado, 30 de dezembro de 2023

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Límpido


Foi sempre o teu sorriso, aquele sorriso oblíquo e mensageiro que diz: estou aqui, sem dizer nada, também as tuas palavras que ressoam de um subconsciente límpido e alegre, és para mim poesia e prosa que eu envolvo numa toada sem tréguas.

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

O levedar e o silêncio


No momento de fazermos a broa não dispensamos os factos da memória, aos poucos o nosso amassar rende-se cerimoniosamente aos gestos, assim, abre-se portas à perseverança e ancestralidade feita sabedoria que nos encaminha no acerto do amassar de punho que vai e outro que se levanta.

O levedar e o silêncio unem-se por baixo de um pano branco, como dois corpos debaixo de um lençol, é a alegria das carícias, crente, a massa, nas intenções, deixa-se tocar, remexer, moldar, entrega-se ao forno, numa viagem que lhe altera a suavidade, doa a quem doer.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Solidão

Quem escreve quer morrer.

Quem escreve tem o desejo de dormir em ombros matinais e na boca ser lágrima ou o sorriso de uma árvore.

Quem escreve quer ser praia, solidão, odor a morte e sol, quer ser a sede da serpente, o grito sobre as pedras sem caminho, o negro da noite sobre os olhos.

Pois é assim, treino e jantar no São Sebastião com boa companhia hoje a vida é mais um dia.